domingo, 13 de fevereiro de 2011

Diário de um motociclista - Parte III

Tentei levantar no mesmo horário do dia anterior, mas meu corpo não se moveu. Acabei tomando café às 8:20hs e parti para o Parque Estadual do Biribiri, protegido pelo IEF. A primeira cachoeira do Parque se encontrava a 6km da Entrada. Naturalmente a estrada era de terra, uma rotina nessa viagem. No quilômetro anterior à cachoeira havia outra entrada rumo a um mirante e tive que ir até lá primeiro. Lá permaneci por alguns minutos e fui pra cachoeira Sentinela que é pequena, mas é tranquila e bela (rimou, dã hehe). É um bom lugar de se ir e relaxar bastante. Houve uma situação engraçada com uns gringos lá, pois eu fui conversar e disseram que eram ingleses. Demorei tanto a processar a pergunta que queria fazer a eles que me enrolei e apenas despedi quando eles foram "explorar o ambiente". Sai de lá por volta das 11hs e retornei ao hotel pra fechar a diária e caçar rumo pra outro lugar. Como eu tinha que ir aos Correios, pedi um prazo maior pra fechar a diária. Aproveitei a brecha e fui conhecer melhor o centro histórico de Diamantina. Era cerca de 12:30hs e tava pronto pra sair do hotel, até pedindo informações para o rapaz q lá trabalhava, pois eu pensava em ir pra Milho Verde. Me foi dito que a cidade era ao lado de Serro, que eu havia passado no dia anterior, o que me desmotivou a ir pra lá pois teria que voltar bem o caminho e atrapalharia os planos. De qualquer forma, ele me aconselhou a ir para Conselheiro Mata, mostrou imagens de cachoeiras e falou mil maravilhas de lá. Portanto, sai de Diamantina por 8km de asfalto e mais 41km de estrada de terra até chegar em Conselheiro Mata. Por sorte, em boa parte do trecho dava para avançar em velocidade razoável, diferente de trechos já passados.

Cheguei em Conselheiro Mata e não era pra ser surpresa. Uma rua cortando o pequeno distrito, sem lojas, sem pessoas, sem asfaltamento. Havia apenas um bar ao final da rua e por lá parei e descobri que o dono era justamente a pessoa que o cara do hotel em Diamantina havia me dito pra procurar. Almocei por lá e conversei bastante com o Kussu, que me recebeu muito bem, diga-se de passagem. Descansei o corpo um pouco, pois estava "quebrado" de tanto andar com esse mochilão em estrada de terra. Parti pra cachoeira do telésforo, situada em uma fazenda à 18km de Conselheiro Mata. Segui as instruções e cheguei na fazenda, me identificando para o peão e adentrando às terras de seu patrão. Continuei por mais uns quilômetros na estrada da fazenda e tinha de tudo... buracos, trechos intransitáveis, cascalho, pedras e, nas proximidades da cachoeira, areia, MUITA AREIA.

Me vem aquele velho ditado: só existem dois tipos de motociclistas, os que já cairam e os que vão cair. Após dois anos de carteira... a minha primeira queda e justamente na areia, que não é nada favorável para motos. Estava em velocidade de 30km/h e havia tanta areia que parecia estar na praia. Perdi o equilíbrio facilmente (diferente dos meus outros quase capotes na viagem) e cai para a esquerda. Minha perna esquerda ficou presa na moto enquanto a direita foi parar justamente no cano de descarga, originando uma bela de uma queimadura e muita dor. Estava sozinho no meio do nada e bem distante da casa da fazenda. Me restou levantar a moto e resolver tudo sozinho. Decidi prosseguir pra cachoeira e, mais uma vez, a areia se tornava a vilã. Outra perda de equilíbrio, mas não cai junto com a moto, só a deixei tombar para a direita. Fui até a cachoeira o mais lento possível e lá vi o quanto maravilhosa ela realmente era. Parecia quase uma praia, de tanta areia na sua proximidade e tanta água ali. Deixei minhas coisas numa árvore e fui pra lá, sem roupa de banho de novo, já que estava completamente sozinho mesmo. Uma belezura de paisagem, cachoeira, água... tudo perfeito, com exceção do machucado. A água certamente me dava um super refresco pra intensa dor. Começou a chover e enquanto estava na água, muitos peixinhos circulavam minha perna querendo tirar casquinha da minha queimadura. Tava complicado e ai preferi voltar na chuva mesmo.

Cheguei novamente ao distrito e o dono do bar jogou muito detergente na minha queimadura, o que deixou a dor quase insuportável. Ardia muito, estava inchado, umas bolhas, enfim...
Como não pegava celular lá, tentei fazer ligações do telefone público (haviam 4 no distrito). Alguns cavalos estavam ali parados, havia uma travessia de gado também e os fazendeiros indo ao bar tomar uma. O dono do bar tinha uma casa que usava como "pousada" e fiquei por lá. Com receio da dor, pensei bastante se continuaria viajando ou retornaria e assim foi minha noite em claro, já que tinha que ter todo o cuidado com a perna. Pretendia ir na cachoeira ao lado do distrito na manhã seguinte, mas percebi que não tinha mais dinheiro algum (lá não tinha banco, óbvio) e ainda ia ficar devendo uma coca pro dono do bar.

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